quinta-feira, 6 de julho de 2017

Escrevi esse miniconto há alguns anos, inspirado numa cena passada na sala de espera de um consultório médico e que presenciei com doce encantamento.

       Ele e Ela

      Ele abria os braços, sorridente, um convite ao abraço. Ela ria, corria para ele, parava a sua frente, ria mais, dava as costas e corria de volta. Ao parar, olhava para trás, para ele, ali, parado, braços abertos. Ele insistia, chamava-a, os braços teimosos ali, escancaradamente abertos, aguardando-a. Ela ria, corria de novo para ele, parava, ria mais uma vez e retornava, sem consumar o abraço. Ele agora teimava, exigia, queria aquele abraço, seus braços ansiosos e desprezados continuavam estendidos, seus olhos, aflitos. Ela divertia-se com isso, ria, e uma vez mais repetiu sua tortura, foi, riu e voltou. 
    Ele, então, desistiu. Seus braços desabaram, cansados. Ele correu, chorando e foi aninhar-se no colo da mãe, que o consolou com palavras carinhosas e afagos na cabeça. A tia ofereceu-se para abraçá-lo, mas foi imediatamente rejeitada, era o abraço daquela insensível que ele queria, e isso o fez chorar ainda mais. E ela ria, sentada no banco, balançando as curtas perninhas, indiferente ao drama daquela primeira desilusão. 
    Ele não tinha mais que três anos de idade, ela, dois e meio, talvez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário