quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A dura vida de escritor



(Essa crônica foi publicada em 16/06/2010, num site que se encontra desativado.)

Recentemente fui à loja de uma colega com o intuito de contratar um serviço. Conversando com a proprietária, comentei sobre meu livro, lançado há algum tempo, e, para minha surpresa, ela sugeriu que eu a presenteasse com um exemplar, como uma “cortesia” e assim ela iria comentar sobre ele com suas clientes.
Na hora fiz cara de paisagem e desconversei. Saí de lá com uma sensação estranha, como se tivesse ouvido uma ofensa a minha pessoa. Ao refletir sobre o ocorrido, constatei que na verdade, o que eu ouvi foi, de fato, uma ofensa: a mim, ao meu esforço, ao meu trabalho. O que acharia essa pessoa se eu lhe pedisse que realizasse um serviço para mim, como “cortesia”, e então eu faria propaganda gratuita entre os amigos?
Imaginem se a cada vez que lançarem um produto ou serviço novo, você se dirigir a uma loja e pedir uma “cortesia”. Que futuro aguardaria esses comerciantes senão o fracasso? Então por que imaginar que um escritor, que trabalha ideias, que produz sonhos, que cria histórias, que gera entretenimento, não merece ter o fruto do seu trabalho valorizado como qualquer outro?
Em nosso país é comum encontrar escritores que tem uma outra atividade laborativa para ajudá-lo a manter seu orçamento. A produção intelectual costuma ser vista como um hobby, um passatempo, uma segunda opção. A dedicação exclusiva à literatura chega a ser considerada por alguns como uma perda de tempo, ou seja, o escritor que não tem outra profissão é visto muitas vezes como um desocupado.
Pessoas que tem essa visão são frutos de uma sociedade consumista e frívola que cultua a beleza estética com seus puxas e repuxas de pele, a ostentação de grifes ainda que se estoure todos os limites dos cartões de crédito e os sorrisos congelados da Revista “Caras”.
Mas a sociedade também tem outra face: a dos que trabalham e exigem respeito com seu labor, os que respondem às futilidades com atitudes sadias e inteligentes sem também tornarem-se tiranos da intelectualidade.
Para todos os que consideram os valores éticos e morais como pilares de qualquer trabalho honesto que se exerça e que respeitam todo trabalho produzido com dignidade, minhas considerações e meus respeitos.
Aos que não, minha cara de paisagem.