(Essa crônica foi publicada em 16/06/2010, num site que se encontra desativado.)
Recentemente
fui à loja de uma colega com o intuito de contratar um serviço. Conversando com
a proprietária, comentei sobre meu livro, lançado há algum tempo, e, para minha
surpresa, ela sugeriu que eu a presenteasse com um exemplar, como uma
“cortesia” e assim ela iria comentar sobre ele com suas clientes.
Na
hora fiz cara de paisagem e desconversei. Saí de lá com uma sensação estranha,
como se tivesse ouvido uma ofensa a minha pessoa. Ao refletir sobre o ocorrido,
constatei que na verdade, o que eu ouvi foi, de fato, uma ofensa: a mim, ao meu
esforço, ao meu trabalho. O que acharia essa pessoa se eu lhe pedisse que
realizasse um serviço para mim, como “cortesia”, e então eu faria propaganda
gratuita entre os amigos?
Imaginem
se a cada vez que lançarem um produto ou serviço novo, você se dirigir a uma
loja e pedir uma “cortesia”. Que futuro aguardaria esses comerciantes senão o
fracasso? Então por que imaginar que um escritor, que trabalha ideias, que
produz sonhos, que cria histórias, que gera entretenimento, não merece ter o
fruto do seu trabalho valorizado como qualquer outro?
Em
nosso país é comum encontrar escritores que tem uma outra atividade laborativa
para ajudá-lo a manter seu orçamento. A produção intelectual costuma ser vista
como um hobby, um passatempo, uma
segunda opção. A dedicação exclusiva à literatura chega a ser considerada por
alguns como uma perda de tempo, ou seja, o escritor que não tem outra profissão
é visto muitas vezes como um desocupado.
Pessoas
que tem essa visão são frutos de uma sociedade consumista e frívola que cultua
a beleza estética com seus puxas e repuxas de pele, a ostentação de grifes
ainda que se estoure todos os limites dos cartões de crédito e os sorrisos
congelados da Revista “Caras”.
Mas
a sociedade também tem outra face: a dos que trabalham e exigem respeito com
seu labor, os que respondem às futilidades com atitudes sadias e inteligentes
sem também tornarem-se tiranos da intelectualidade.
Para
todos os que consideram os valores éticos e morais como pilares de qualquer
trabalho honesto que se exerça e que respeitam todo trabalho produzido com
dignidade, minhas considerações e meus respeitos.
Aos
que não, minha cara de paisagem.