domingo, 12 de agosto de 2012

O sorriso de quem ama

Essa crônica já foi publicada no paraibaonline em 2011. Em homenagem aos pais.

O sorriso de quem ama

Todo dia dos pais é a mesma coisa. Apesar de saber que se trata de uma data comercial, onde o comércio fatura com a venda de presentes diversos aos filhos que querem homenagear seus pais, embora alguns busquem compensar a culpa pela falta de atenção durante todo o ano, é inevitável não lembrar do meu pai. Perdi-o aos oito anos, num tempo em que as crianças de oito anos realmente pareciam ter oito anos, sem essa precocidade algumas vezes desconcertante que vemos hoje em dia na meninada. Foi meu primeiro contato com a morte, apesar de já ter perdido meus avós paternos. Lembro do velório, aquela sensação de que alguma coisa estava errada mas eu ainda não entendia exatamente o quanto aquilo iria modificar a minha vida. Já se passaram trinta e sete anos mas ainda me recordo do último beijo que dei em seu rosto pálido e frio. Cresci sem seu amparo, uma vida coalhada de ausências. Não recebi seu abraço quando completei quinze anos. Não pude ver seu olhar de repreensão quando cometi alguma falta, e foram tantas. Não senti o seu orgulho quando passei no primeiro vestibular nem tampouco a sua decepção por eu não ter concluído o curso. Não vi suas lágrimas, nem as doces pelas minhas alegrias nem as amargas, pelas minhas decepções. Não vi o seu sorriso de felicidade quando minhas filhas nasceram nem pude ouvi-las chamando-o de “vovô”. Não vi a sua emoção nem o seu orgulho no dia da minha, enfim, formatura, quando nem eu cabia em mim mesmo de tanta alegria. Mas apesar de tudo isso, sempre sinto que há algo dele muito impregnado em mim, de um jeito tão forte que não me deixa esquecê-lo. Ele despertou em mim a paixão pela leitura, pelo conhecimento. Ele estimulou minha criatividade e imaginação. E ele me amava intensamente, não era preciso ser uma criança precoce para perceber isso. Nos momentos em que estou mergulhada numa boa leitura ou quando desenvolvo algum projeto ou ainda quando estou ajudando minhas filhas em alguma tarefa criativa para a escola, sinto que não estou pensando sozinha. O tempo que passamos juntos foi pouco mas não ficou imune ao amor. Guardo pra mim o sorriso estampado no seu rosto quando eu, bem pequena, descobri o presente escondido embaixo da cama na manhã de Natal e corri para mostrar-lhe. É o mesmo sorriso bobo que dou quando vejo minhas filhas em seus momentos de alegria: o sorriso de quem ama incondicionalmente. Feliz dia dos pais, meu pai.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Livro A sombra do vento




A sombra do vento
De Carlos Ruiz Zafón

A Barcelona da primeira metade do séc. XX serve de pano de fundo de um romance instigante e perturbador. A primeira cena nos leva ao Cemitério dos Livros Esquecidos, um lugar que qualquer ávido leitor da face da terra gostaria de conhecer e percorrer seus corredores, descobrindo tesouros literários.
Seguir os passos de Daniel Sempere narrados pelo próprio não é tarefa que se realize incólume. Impossível não se envolver nos mistérios que permeiam a narrativa e a cada capítulo não desejar ardentemente decifrar os segredos do enigmático Julián Carax.
Em meio à trama, personagens encantadores e divertidos surgem e crescem na história, como Fermín, o ex-mendigo, enquanto outros tornam-se perigosos.
Um homem sem rosto, um livro maldito, vidas destroçadas, um criminoso perverso e um jovem que busca a verdade e a felicidade de um grande amor, esses são alguns dos elementos que o espanhol Zafón magistralmente utilizou na construção de uma história que não se permite ser largada enquanto o último parágrafo não for lido. E ao fazê-lo, sentimo-nos plenos, completos, mergulhados na sensação prazerosa que só os excelentes enredos proporcionam aos que concluem a sua leitura.
“A sombra do vento” é um convite ao mais puro deleite literário.

A sombra do vento
De Carlos Ruiz Zafón
Literatura espanhola
400p.
Editora Suma de Letras