quarta-feira, 13 de abril de 2011

Letras e Saberes

Nunca havia percebido quantos livros possuía até o dia em que precisei retirá-los das prateleiras para pintar as paredes do escritório. Forrei o chão do meu quarto com um lençol e comecei a depositá-los, empilhados, clássicos e contemporâneos, nacionais e estrangeiros, didáticos e de entretenimento, todos juntos numa comunhão de letras e saberes.
Olhando aqueles livros lembrei os momentos de encantamento que vivi entre suas páginas: a impressionante saga dos Buendia, o fascínio que a pintura de Basil provocou no jovem Dorian Gray, os tantos porquês que atormentavam a mente da criação de Victor Frankestein, a sofrida trajetória de Fantine e Cosette, a obstinação de Liesel Meminger, o pulso de ferro de Kate Blackwell, a esperança da jovem Anne Frank, o sangue frio de Richard Hickock e Perry Smith, a doçura de um pequeno príncipe, a paixão cega de um mouro.
Muitos me ensinaram, tantos me emocionaram, poucos me decepcionaram, alguns não conseguiram sequer atrair minha atenção, deixando-me apática desde as primeiras palavras mas nenhum passou incógnito, indiferente pela minha vida. Suas páginas, capas, orelhas, sinopses marcaram uma época, um momento.
Ao recolocá-los nos seus lugares, exercito a memória, preenchendo a mente com suas histórias e não resisto, acabo folheando um ou outro, buscando este ou aquele trecho marcante, favorito e sentindo um prazer ainda maior do que da primeira vez, como um reencontro com alguém muito querido que há muito não vemos e que nos traz à tona reminiscências do que se viveu de bom.
Acabada a tarefa de guardá-los, limpos e arrumados, compartilhando suas essências, contemplei-os ainda, encostada na porta, com o olhar silente e satisfeito de quem aprecia o belo.

terça-feira, 5 de abril de 2011

A frágil linha da razão

A linha da razão é fina e frágil. A mente, forte e poderosa usina de ideias, se deteriora sob o ataque de doenças degenerativas, que corroem a memória e a alma de suas vítimas.

É triste ver alguém que amamos, que outrora foi lúcido e ativo, mergulhar nas brumas do esquecimento, dos delírios, das visões distorcidas da realidade.

É ainda mais triste e inquietante quando você percebe que não pode fazer muita coisa pra impedir esse processo. Cabe então a nós minimizar a situação com paciência e dedicação, tornando a vida mais amena e suave.